O tucano Aécio Neves e o socialista Eduardo Campos
estão cada vez mais próximos, mas uma aliança para
as eleições de 2014 ainda dependerá das escolhas
políticas do PSB
ALIANÇA À VISTA?
Aécio acredita que o caminho mais curto para o Palácio
do Planalto passa pela união com Eduardo Campos
Poucos meses antes de morrer, em agosto de 2005, o ex-governador Miguel Arraes enviou o neto Eduardo Campos a Belo Horizonte para sondar o então governador de Minas, Aécio Neves, a respeito de um projeto inusitado. Arraes acalentava o sonho de montar uma chapa presidencial em que Aécio e Campos aparecessem juntos. Como não acreditava na viabilidade de uma aliança com os tucanos, o político veterano sugeriu que o neto de seu amigo Tancredo Neves deixasse o PSDB para concorrer à Presidência da República pelo PSB como cabeça de chapa. O vice seria o próprio Campos, então deputado federal. Cauteloso, Aécio recusou o convite educadamente. Mas, depois de sete anos alimentando a ideia, resolveu transformá-la em espécie de bandeira pessoal. Ainda que trocar de partido não seja uma opção, Aécio crê que o caminho mais curto para a oposição voltar ao Palácio do Planalto passa pela aliança com Eduardo Campos.
Na última semana, Aécio se dedicou exclusivamente a dar forma a essa parceria. “Coloquei mais 40 no peito do que 45”, disse Aécio em Campinas, numa referência aos números respectivamente de PSB e PSDB. O mineiro desembarcou em Campinas para apoiar a campanha do candidato do PSB Jonas Donizette. Na chapa encabeçada pelo PSB, o vice é o tucano Henrique Magalhães. Eles concorrem com o petista Marcio Pochmann, que tem como vice Adriana Flosi (PSD). No primeiro turno, tucanos e socialistas também haviam se unido contra o PT no Recife e em Belo Horizonte. Na capital pernambucana, conseguiram eleger o socialista Geraldo Julio. Em BH, asseguraram a reeleição de Marcio Lacerda (PSB). No segundo turno, o PSDB de Aécio e o PSB de Eduardo Campos também estão juntos contra candidatos governistas em cidades importantes como Manaus e Uberaba.
Apesar da parceria celebrada nas eleições municipais, o entusiasmo demonstrado pelo senador tucano ainda contrasta com a reticência de Eduardo Campos. Ninguém sabe exatamente o que se passa na cabeça do governador de Pernambuco e presidente do PSB. Como na letra de Chico Buarque, encerrada a disputa municipal, Aécio Neves quer olhar nos olhos azuis do amigo e ouvi-lo sobre o futuro, especialmente seus planos para 2014. E não é o único. Em paralelo ao movimento de Campos, no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff já se prepara para renegociar o espaço do PSB na Esplanada dos Ministérios. Hoje, a legenda tem apenas a Secretaria de Portos e o Ministério da Integração. ISTOÉ apurou que já está nas mãos do chefe de gabinete da Presidência, Giles Azevedo, a lista das exigências para a manutenção do apoio dos socialistas ao governo. Uma fatura alta, que inclui os ministérios das Cidades e dos Transportes, além de duas diretorias da Conab (Financeira e Abastecimento) e o comando da Codevasf, estatal responsável pelo desenvolvimento das bacias dos rios São Francisco e Parnaíba. O governo só aceita ceder DNIT e Codevasf, e avalia se entrega ou não a pasta das Cidades.
Ninguém sabe ao certo qual será a posição de Campos, que nega oficialmente qualquer cobrança por mais espaço. Publicamente, ele critica setores do PT, defende o diálogo com a oposição, mas reafirma o comprometimento com o projeto petista e a reeleição de Dilma Rousseff. Sabe que o PSB deve seu crescimento à aliança com o PT desde o início do governo Lula. “A direita não tem alternativas, não sabe fazer oposição. Nosso empenho é fortalecer a presidenta Dilma”, afirma o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. O governador de Pernambuco, porém, se sente tentado a realizar o sonho do avô. Politicamente, pode ser uma jogada com boas chances de êxito. Para o cientista político Leonardo Barreto, da UnB, uma vez unidos no plano nacional, tucanos e socialistas poderiam virar polo de atração para setores do PMDB. Campos levaria o grupo de Jarbas Vasconcelos (PE), enquanto Aécio traria consigo a tropa de Sérgio Cabral. O senador e o governador do Rio são amigos de adolescência, passavam as férias em São João del Rei (RJ), jogavam bola e até viajaram para o Festival Internacional da Juventude em Moscou, em 1985. Cabral foi casado com uma prima de Aécio e os três filhos mais velhos têm sobrenome “Neves Cabral”. Resta saber o que os olhos de Eduardo Campos dirão até 2014.
Fonte: Revista ISTOÉ Online
Edição: Antonio Luis
Nenhum comentário:
Postar um comentário