segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pirarucu brasileiro conta com armadura natural contra piranhas


Estudo americano desvenda mecanismo pela qual o peixe amazônico se tornou imune a um dos mais poderosos predadores

Escamas resistentes e flexíveis protegem o pirarucu
Escamas resistentes e flexíveis protegem o pirarucu (Thinkstock)
Cientistas americanos desvendaram o segredo do pirarucu (Arapaima gigas) para sobreviver a lagos e rios infestados de piranhas na Amazônia: escamas que combinam rigidez e resistência com elasticidade. O peixe brasileiro tem uma armadura natural que pode inspirar a produção de materiais industriais. A descoberta foi publicada em um artigo na revista Advanced Engineering Materials.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Battle in the Amazon: Arapaima versus Piranha

Onde foi divulgada: revista Advanced Engineering Materials

Quem fez: M. A. Meyers, Y. S. Lin1, E. A. Olevsky e P.-Y. Chen

Instituição: Universidade da Califórnia, EUA

Dados de amostragem: Escamas do pirarucu e dentes de piranhas

Resultado: A composição com duas camadas, uma de cálcio e outra de colágeno, protege os órgãos internos do pirarucu dos ataques de cardumes de piranhas.
A lenda do pirarucu chegou aos ouvidos do engenheiro mecânico Marc Meyers, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, durante uma temporada de pesca esportiva no norte do Brasil. O peixe, que chega a três metros de comprimento e pode pesar até 200 quilos, é o único que consegue conviver com as piranhas em cursos d'água. Outros peixes, gado e até seres humanos que entram na água onde vivem cardumes de piranhas não costumam escapar de seus poderosos dentes.

O pirarucu é considerado um fóssil vivo por guardar características de peixes ancestrais, como pulmões. Ele precisa subir à superfície para respirar constantemente. Nesse momento, os pescadores tentam fisgá-lo jogando um grande pedaço de carne perto de sua boca. Se ele não morde a isca, em poucos segundos as piranhas acabam com ela.

Curioso, Meyers resolveu estudar as escamas do pirarucu em seu laboratório. E descobriu que, além de grandes, com até 10 centímetros de comprimento, elas tinham duas camadas. A exterior é a mais resistente e contém muito cálcio, elemento que também dá rigidez a nossos ossos. A parte interna, por outro lado, é feita de um material maleável, ainda que bastante resistente, o colágeno, que nos seres humanos está mais presente nas articulações.
Thinkstock
Poucos animais resistem aos dentes afiados da piranha amazônica
Poucos animais resistem aos dentes afiados da piranha amazônica

Testada em uma máquina que imita a mordida das piranhas, a 'pele' do pirarucu se mostrou extremamente resistente. A mordida é tão forte, afirma o estudo, que apenas a rigidez garantida pelo cálcio não seria suficiente para resistir ao ataque. As escamas quebrariam, oferecendo aos predadores a tenra carne do pirarucu.

"É um estudo muito bem feito", comentou o pesquisador de materiais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), também nos EUA, ao site da revista Science. Ele lembrou que a combinação de materiais diferentes para formar uma estrutura que assume novas características é uma ideia comum na natureza que os homens tentam imitar na indústria.
Fonte: Veja Online
Edição: Antonio Luis

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