ISTOÉ localizou alguns dos personagens do maior
escândalo de corrupção dos últimos anos e descobriu
que, dentro ou fora da vida pública, a maioria acumula
poder e influência pelo País
Izabelle TorresFUNCIONÁRIO DA CÂMARA
Acusado de distribuir propina, Jacinto Lamas
é hoje chefe-de-gabinete do PR
Passava das 15 horas de uma quarta-feira de junho quando um servidor entrou apressado na sala da liderança do PR, falando ao telefone e distribuindo instruções aos presentes. Tratava-se de Jacinto Lamas, personagem do escândalo do Mensalão acusado de receber e distribuir a propina destinada ao antigo PL e um dos 38 réus do processo com julgamento marcado para 1º de agosto no Supremo Tribunal Federal. Lamas continua funcionário da Câmara dos Deputados e engorda o contracheque com a função de chefe de gabinete do PR, obtida graças ao prestígio acumulado por anos de dedicação ao partido. Além de se manter como homem de confiança dos caciques da legenda, ele também manteve inabalável a vida confortável que conquistou. Prova disso é a mansão onde mora, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, na qual se encontrava em plena segunda-feira às 17 horas, quando foi procurado por ISTOÉ. “Estou bem e não falo do Mensalão. Você deveria ir atrás dos políticos”, disse pelo interfone. A exemplo de Lamas, ISTOÉ localizou outros réus do processo para mostrar como vivem alguns dos personagens do maior escândalo de corrupção dos últimos anos.
O ex-líder do governo Lula, professor Luizinho, saiu da vida política pela porta de trás e entrou na elite do mundo empresarial. Em seu nome estão duas empresas. Uma delas é de consultoria e existe desde 2007. Nessa empresa, ele presta serviços a gente interessada em irrigar contas bancárias com dinheiro público por meio de convênios com prefeituras e ministérios. Em outra investida empresarial, ele divide com a mulher a sociedade na Analuz Reflorestamento, sediada na Bahia e especializada em plantações de eucaliptos. Assim como o petista Luizinho, o ex-deputado do PTB Romeu Queiroz não voltou para cargo eletivo depois do escândalo, mas, para ganhar dinheiro, se vale da influência que teve um dia. Em seu nome há nove empresas. Duas são de aluguel de veículos e estão frequentemente na lista de contratadas de prefeituras mineiras. Quem também se reergueu depois do desgaste público foi Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural. Ela continua sendo uma das principais acionistas da instituição e divide seu tempo entre administrar seus negócios pessoais e os da holding do Grupo Rural. Seu poder na corporação não diminuiu: ela ainda participa das decisões estratégicas do banco e dá expediente diário na instituição.
PATRIMÔNIO
A mansão de Lamas em Brasília:
"Estou bem e não falo do Mensalão"
Para os réus que faziam parte das empresas de Marcos Valério, pouca coisa mudou. Os sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerback ainda dividem com Valério a sociedade em pelo menos duas empresas de publicidade em atividade, além da SMP&B, que teve de sair de cena depois do Mensalão. Simone Vasconcelos, a ex-gerente financeira da empresa por onde circulavam notas frias e dinheiro destinado a recompensar parlamentares, foi quem pagou o preço mais alto e amargou pouco mais de um ano sem emprego. “O problema é que um processo criminal macula a imagem da pessoa”, diz Leonardo Yarochewsky, especialista em Direito Criminal e advogado de Simone. “Isso se agrava em casos de repercussão nacional como esse.”
É o peso de ser um réu que move a rotina de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Com um memorial em mãos, ele tem feito palestras pelo País pregando sua inocência. Para ganhar a vida longe da administração do partido, Delúbio montou uma imobiliária que atua na internet. Ele optou por ficar longe de disputas eleitorais. Escolha oposta à que foi feita pelo ex-deputado Paulo Rocha, que tem dado as cartas nas eleições do Pará como presidente de honra do PT no Estado, e a de Anderson Adauto, que briga para permanecer no comando do PMDB de Uberaba. Com planos mais audaciosos, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) costura apoio e alianças em torno da sua candidatura à prefeitura de Osasco. Apesar de alguns mensaleiros terem levado a vida nos últimos anos como se nada devessem ao País, todos sabem que há 11 ministros do STF no meio de seu caminho.
Fonte: Revista ISTOÈ Online
Edição: Antonio Luis
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