Confusão, ansiedade e uma certa fadiga são os resultados principais de dez anos de políticas que cultivaram o medo, uma das consequências mais visíveis dos atentados de 11 de Setembro na sociedade americana.
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Visto como maior preocupação de quase metade dos americanos após os atentados, em 2001, o risco de um ataque terrorista não é prioridade hoje nem para 1% deles, indicam pesquisas.
Mas, embora o movimento seja natural, dado o distanciamento histórico e a ascensão de problemas mais urgentes como a crise econômica, ele abriu cicatrizes resistentes: 36% temem ser vítimas de um futuro ataque.
Para especialistas, esse clima de medo constante, mesmo subjacente, pode ser lido como trunfo do terrorismo.
Spencer Platt/Getty Images/France Presse | ||
Vista do World Trade Center, que se prepara para lembrar os dez anos do ataque às torres |
Do final de 2001 a 2006 -quando foi desmantelado um plano envolvendo aviões vindos de Londres pros EUA-, os americanos viveram mergulhados em um estado constante de alerta.
Nos três primeiros anos, notícias de que um novo plano havia sido desmantelado pelo governo inundavam a mídia semanalmente.
"O maior problema da cultura do medo é que as pessoas ficam com níveis mais altos de ansiedade, que atrapalham seu sono, seu raciocínio ou mesmo seu envolvimento na comunidade", afirmou à Folha o sociólogo Barry Glassner, autor de "Cultura do Medo" (1999, com edição revista agora).
A sensação perene de insegurança foi reforçada por atentados espetaculosos em Madri (2004) e Londres (2005). Mas não por um ataque nos EUA, que, segundo os analistas, vivem seu mais longo período de calmaria em quase cinco décadas.
Analistas políticos, na época, atribuíram a essa manipulação do temor popular a reeleição do republicano George W. Bush, amparado pelo então cultuado "establishment neoconservador".
"O medo do terrorismo já existia [nos EUA] antes de Bush. Mas Bill Clinton não o usou nas eleições como Bush o usou em 2002 e 2004", escreveu à Folha John Judis, editor da revista "New Republic" e pesquisador no centro de estudos Carnegie Endowment for Peace.
"Philip Roth, em 'A Marca Humana', que se passa nos anos 90, já falava do terrorismo como o grande medo a substituir a União Soviética."
A política, contudo, foi equivocada, na avaliação dos entrevistados. "Os alertas deveriam levar em conta a probabilidade de o risco se concretizar, e a chance de um americano morrer ou ser gravemente ferido em um ataque terrorista é muito baixa", diz Glassner. "Protegeríamos melhor as pessoas se focássemos em perigos mais prováveis."
Fonte: Folha.com
Edição: Antonio Luis
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