Ex-Goleiro Bruno depondo na assembleia de Minas Gerais |
"Eu quero sair daquela (penitenciária) Nelson Hungria de cabeça erguida, porque eu não devo nada. Quero sair para cuidar da minha carreira e dos meus entes queridos. Se eu quisesse sair por meio de corrupção, eu teria aceitado o pedido do senhor Edson Moreira , que me pediu R$ 2 milhões para jogar a culpa em cima do Macarrão (Luiz Henrique Romão) e do meu primo menor", disse o ex-jogador.
O pedido teria acontecido na sala de Moreira no DHPP, durante uma conversa informal. Segundo Bruno, os dois estariam sozinhos quando o delegado sugeriu transferir a culpa ao amigo e ao primo do ex-goleiro. "Naquela época, eu conseguiria esses R$ 2 milhões em um estalar de dedos, (...) mas eu considero o Macarrão uma criança, então eu não faria isso", disse.
Bruno relatou ainda que recebeu outras ameaças de Moreira em diferentes oportunidades. "Ele perguntou o que eu achava se eu encontrasse pedaços de minha filha espalhados por Minas Gerais. Uma perna aqui, outra ali, decapitada", disse.
Bruno participa, desde as 9h40 desta terça-feira, de uma audiência no auditório da Assembleia Legislativa. O ex-goleiro foi convidado pela Comissão de Direitos Humanos da Casa para prestar esclarecimentos sobre a suposta tentativa de extorsão que ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, teriam sofrido por parte da juíza de Esmeraldas, Maria José Starling, e pelo ex-advogado do jogador, Robson Pinheiro. Emocionado, o ex-goleiro chorou pouco antes da abertura da audiência.
Bruno chegou escoltado ao auditório da Assembleia, por volta das 9h30. Dez minutos depois, o deputado Durval Ângelo (PT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos, deu início à audiência. Além de Bruno, estão presentes Ingrid e o advogado do jogador, Claudio Dalledone Júnior.
O primeiro a falar foi Dalledone, que apresentou à comissão supostos e-mails trocados entre a juíza e Ingrid que comprovariam a tentativa de extorsão, além do contrato de Pinheiro e outros documentos. Segundo Dalledone, a magistrada entrou em contato com Ingrid oferecendo um plano para soltar o ex-goleiro. De acordo a denúncia feita por Ingrid à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a juíza e Pinheiro teriam pedido R$ 1,5 mi para tirar Bruno da cadeia.
No depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos nesta terça-feira, Dalledone disse que, no final de 2011, Pinheiro chegou a dizer, em reunião com Bruno no presídio Nelson Hungria, em Contagem (MG), que já estava com o habeas-corpus prometido em mãos. "Ele disse para o Bruno: 'estou com o seu alvará na minha pasta'", disse Dalledone, que relatou ainda que o ex-advogado de Bruno exigia que o atleta assinasse o contrato de honorários que previa o pagamento de R$ 1,5 milhão.
Dalledone disse que, neste dia, alertou Bruno de que tudo não passava de uma trama de Pinheiro, que, a partir daí, teria começado a vigiar seu colega. Ainda de acordo com Dalledone, Pinheiro estipulou também, em outra cláusula do contrato, uma multa de R$ 1,5 milhão caso Bruno tivesse qualquer contato com seu colega sem a sua presença. "Ou eu compactuava, ou eu denunciava (o plano). Eu denunciei", disse Dalledone.
Na última semana de fevereiro, segundo o advogado, a noiva de Bruno chamou Dalledone até o Rio de Janeiro para relatar a tentativa de extorsão. No encontro, Dalledone ouviu relatos de que Pinheiro teria viajado até o Rio para procurar amigos de Bruno - tanto no círculo social quanto no Flamengo. Em seguida, o ex-advogado do atleta teria dito a Ingrid que precisava de um adiantamento de R$ 1,5 milhão. "O Robson teria falado para a Ingrid: 'preciso do R$ 1,5 milhão agora para garantir o habeas-corpus'", disse Dalledone.
Dalledone disse achar estranha a exigência porque o contrato de honorários não garante sucesso na causa. Questionado pelo deputado Durval Ângelo se Pinheiro estaria garantindo o sucesso na empreitada, o advogado foi enfático: "sim, (Robson estaria) contratualmente garantindo o êxito do habeas-corpus".
Ao saber do plano, Dalledone teria feito uma pesquisa junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) e descobriu, segundo ele, que Pinheiro nunca havia impetrado um habeas-corpus durante os seus mais de dez anos de carreira advocatícia. "Verifiquei inclusive que ele nem era criminalista", afirmou.
De acordo com Dalledone, Bruno sofre com o assédio constante de advogados. O defensor estima que entre cinco e dez advogados procurem o ex-jogador por semana no presídio. Durval Ângelo completou: "segundo informações da Secretaria de Defesa Social, todos os dias, pastores de igrejas evangélicas também tentam entrar no presídio para conversar com o Bruno". "As aves de rapina são religiosas e advocatícias", disse.
Fonte: Terra
Edição: Antonio Luis
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